Quantcast
Channel: SAmbaPUNk » hardcore
Viewing all articles
Browse latest Browse all 3

Bem Jason

0
0
Foram pelo menos duas semanas de troca de e-mails. Tudo para fazer uma entrevista maneira com o Jason; para destrinchar um pouco do novo álbum, “Obtuso”. Isso significava conversar-e-beber-cerveja com quatro caras mas, na hora H, nada de o Vital aparecer. A respeito da ausência do cantor do grupo, o baixista Flavio Flock inicialmente tentou simplificar: “Três quartos estão de bom tamanho…” Como assim!? Hein!? Sorry!? “A gente dá conta do recado. Se fosse outro faltando, ia dar certo do mesmo jeito”, completou, contando com a aprovação do baterista Marcelo de Souza e do guitarrista Rodrigo Piccoli. O batera adoçou dizendo que mesmo ele correra o risco de não comparecer, já que trabalha numa agência de publicidade e é comum compromissos de última hora serem desmarcados. Mas todas aquelas explicações virariam coisa pouca, bobagem mesmo, diante do que estava por vir. Lá pelas tantas, um telefonema deixou Flock atordoado e mudou definitivamente o rumo da prosa: sua avó, que estava internada, havia falecido. Não daria mesmo para ser uma entrevista “normal”.
.
.
Trata-se sem dúvida de um grupo de gente bastante ocupada. Ninguém ali está com a vida ganha. Flavio Flock e Marcelo de Souza são designers. Vital Cavalcante é professor da rede municipal de ensino fundamental e Rodrigo Piccoli dedica-se ao seu segundo curso universitário. Ninguém ali sonha com um fim de tarde no programa do Faustão. Ninguém naquele conjunto acha que vai emplacar música em trilha de novela. Juntos, eles formam uma banda de hardcore/rock. Juntos, também, planejaram uma turnê pelo Nordeste, coisa que o Jason faz “desde sempre”. “Fico tentando dividir o meu tempo”, declarou um Flock ainda não abalado pela partida da avó. “Tento dormir menos horas, pra fazer todas as coisas. Isso pesa porque durante o dia estou meio zumbi. Agora, o meu dormir menos já é o normal. Umas cinco horas por dia.” A fórmula parecia incomodar Marcelo Souza, que vem tentando achar uma outra saída para não ficar com olheiras do tipo que assusta criancinhas. Para ele, a onda é aproveitar os fins de semana.
.
O mais moleque de todos, Rodrigo, sorria e parecia não se importar com os perrengues. Claro… ele é o que está na banda há menos tempo e não sentiu ainda o peso das “responsabilidades”. “Pra mim, tudo é novo. Entrei no Jason de para-quedas, no meio do furacão, com eles gravando disco e marcando turnê.
Faço faculdade… Quando você entra num grupo sério assim, tirando a namorada e a faculdade, parece que vai precisar fazer muita coisa. Tem que gostar muito. E eu tô curtindo.”
.
.
A turnê pelo Nordeste é citada como uma espécie de janela de prazer com a qual todos estão contando. Mesmo com a ausência do professor Vital, dá para imaginar que aquilo é uma unanimidade entre aqueles caras. Semanas depois, posts no Facebook comprovariam essa desconfiança. Por conta da viagem, eles apressaram alguns processos. Coisas não muito simples e que ficam ainda mais complicadas quando há um relógio de ponto observando, marcando os segundos. Nos dois meses que antecederam a viagem e o lançamento do álbum, Flock assumiu um trampo em que precisava cumprir horários nada flexíveis. Mas foi com certo orgulho que ele lembrou de alguns perrengues: “Vai parecer mentira, mas… o Vital estava no estúdio gravando voz e eu, no trabalho, parei o que estava fazendo, naquela hora, escrevi parte da letra e mandei pra ele por SMS. Ele na frente do microfone, recebendo parte da letra, pra gravar!”
.
O designer-baixista-compositor diz que não há tom de orgulho naquela declaração. “É muita pressão. É um trabalho criativo. E foi tenso, de embrulhar o estômago. Tinha um monte de gente à minha volta, mas, precisei esquecer isso e colocar fones de ouvido pra concluir uma letra. Isso não foi uma tiração de onda. Ao contrário. Nunca mais quero fazer assim. A parada foi muito agressiva pra mim, psicologicamente. A pressão fez sair outro tipo de coisa. Foi circunstancial mesmo.”
.
.
O guitarrista tem cara de “jovem”, se comparado aos parceiros de banda. Esse “jovem” arrisca: “Não tem garantia nenhuma de que ao contrário seria melhor. A pressão pode ter ajudado.” Ao que o homem-pressão dá uma resposta-reflexo quase imediata: “Não! Foi como ter um filho. Muito alívio mesmo. Não sei o que as pessoas acham. Mas é que às vezes fica faltando uma palavra. ‘Caralho, preciso achar uma palavra! Pra escrever aqui e tudo fazer sentido!’  Ou pra não escrever uma bobagem da qual eu depois vá me arrepender. Se o cara grava, já era! Só tive consciência depois, quando fui lá e ouvi.”
.
No Jason, tem gente que acha que a coisa sempre poderia ter ficado melhor. Assim como tem gente que acha que, se existe a sensação de que o máximo de tempo foi gasto numa tarefa, beleza, dá para dormir em paz. Flock está no segundo grupo. “Fiz o meu possível”, repete ele, umas três vezes, numa levada que não é rock e muito menos hardcore. Parece um mantra. Pode ser coisa de gente meio estressada. Ou no mínimo muito concentrada. Está aí, concentração. Ele fala lentamente, quando o assunto é concentração: “É uma grande equação… Tenho que me concentrar de uma maneira que se tiver um terremoto vou continuar fazendo aquela porra de letra!”
.
Nada como uma turnê marcada e um disco inacabado para deixar um músico tenso. Será? Que nada. Tanta correria pode bem ser aquela velha vontade de viajar pelo Nordeste. Mesmo quem não está no Jason desde o início parece saber que, para aquela banda, Nordeste é sinônimo de algo especial. “Sempre foi um lugar em que a galera agitou muito, nego sabe letra, bandas locais fazem covers. Que bom. Teve uma hora em que a gente falou ‘Fodeu! Não vai ficar pronto…’”, lembra Flock. Um medo “normal”, mesmo para caras cascudos, né?
.
.
O que também parece “normal”, segundo estes caras, é o fato de grande parte dos produtores nordestinos que conhecidos no início da “brincadeira” não estarem mais na ativa. “Já tinha mudado uma galera. O pessoal envelheceu e parou de marcar shows. Lembro de uma turnê de 2005. Todo mundo daquela época já não faz mais shows. Cara, talvez só o (Anderson) Foca tenha continuado com isso. O Foca é o Roberto Medina do underground de Natal. Procurei outras pessoas que ou não estão com o mesmo gás ou já largaram essa vida”, comenta Marcelo, com um tom que fica entre o lamento e a comemoração.
.
Por falar em envelhecer, como será que eles andam se enxergando no que diz respeito a não perder notas, a tocar com o vigor de antigamente? Pergunta fácil. Era óbvio que todos diriam que a onda é continuar mantendo a velocidade. Mas não custa transcrever:
.
“Foi um som confortável de ouvir. Tinha uma certa maciez”, resume Rodrigo.
“Acho que é musicalidade… A gente tá mais musical mesmo. Eu tava sentindo necessidade de fazer música, música mesmo”, diz Flock, ao que Marcelo emenda: “Não que o que existia antes não fosse, né?”
.
.
Ninguém no Jason está numa fase de muita modéstia. Pelo menos ninguém do trio que compareceu à entrevista. Mas também não é o caso de eles ficarem se achando o máximo separadamente, quer dizer, o bom é que um dá moral para o outro. A banda parece ser um caldeirão de boa vontade e amor, além de reconhecimento mútuo. Flock elogia Marcelo, que elogia Rodrigo, que elogia os dois anteriores. Só faltou Vital na brincadeira.
.
Flock é o que poupa menos combustível, nesse aspecto: “Acho que simplesmente fui mellhorando. Minhas letras estão numa crescente. Vejo coisa do primeiro disco e noto que, agora, sou um cara que sabe mais como fazer letra de música. ‘Ah, tenho que me preocupar mais com isso, isso e isso. Coisas com as quais eu não me preocupava, antes.’ Eu tô melhor. Pronto!”
.
Trazendo as coisas para o terreno das comparações fáceis: será que há algo de Helmet, nesse album? “Total!”, dispara Flock. E antes que ele continue Marcelo completa: “Tem coisa que remete, ali… O Vital parece que ouviu muito Helmet.” Mas o baixista não resiste e retoma: “Tem vários riffs de Jason, antigos, que são tentativas de imitar Helmet.”
.
De repente, eles dão meia-volta, como que momentaneamente cansados de toda aquela autoindulgência. É quando falam da época em que surgiu a grande necessidade de parar um pouco com os shows para garantir o surgimento de material novo. Esses caras levaram um susto. Para eles, seria a única possibilidade de reencontrar o prazer sentido antes, aquele que existiu com o lançamento dos primeiros álbuns. “O sentimento maior era o de querer que as pessoas ouvissem o que estamos fazendo agora. Porque sim. Porque estamos os três tocando juntos de novo já há um ano e agora com o Rodrigo… Não é uma coisa de artistinha, de ‘Ah, eu tinha que botar isso pra fora.’ Não é isso. É uma coisa de intenção mesmo”, ralha Flock.
.
Artistinha? Como assim artistinha? O que é isso? De onde vem esse rancor?
.
Ele tenta (se) explicar: “É, artistinha. Aquilo de ‘Ui, tenho que botar isso pra fora!’ É intencional. O que aconteceu foi intencional. Foi ‘Quero mostrar isso, quero fazer…’ Não é ‘Ah, sou obrigado, estou cheio de angústias e preciso escrever uma letra.’ Não sendo artistinha, sou o quê? Artista? Esse termo tem várias conotações. Algumas, pejorativas. ‘Artistinha’ foi totalmente pejorativo, por isso é que eu digo que a gente não tá tirando de artistinha…”
.
Marcelo dá uma aula de primeiros socorros: “A gente fez e faz tanta coisa, durante tanto tempo, só pra gente mesmo…”
.
O telefone celular de Flavio Flock era o que tinha o ritmo, digamos, mais de artista entre todos ali. Tocou muito. E lá pelas quase-tantas, depois de uns 40 minutos de conversa gravada, isso mais uma vez aconteceu. “Porra, tá foda. Parece que sou um burocrata. Peraí… É minha irmã…” Ele diz isso e levanta-se, para responder mais calmamente à chamada. Quando volta, uma declaração deixa todos meio atônitos: “Minha avó morreu. Ela tinha 80 e poucos anos.
Já tava doente…” E Marcelo saca uma informação que pode servir para explicar a ausência do cantor do grupo: “Ah, a vó do Vital morreu há dois dias.”
.
As duas senhoras são homenageadas com um brinde, feito por todos os presentes naquela mesa, entrevistados e entrevistador. Nos minutos seguintes, foi inevitável: uma série de declarações sobre perdas, sobre a época da vida de um sujeito quando as pessoas ao redor começam a morrer e…
.
A entrevista que havia começado meio torta corria o risco de entortar de vez.
.
Segurança vira insegurança. “Não sei o que fazer”, declara Flock, antes de dar uma saraivada de explicações. A preocupação com a escolha da palavra certa não existe só na hora de fazer letras: “Ela estava com uma doença no sangue, uma coisa que nem sei como chamar. Um nome complicado. Por isso, estava indo ao Hemorio. Não era leucemia. Uns três anos atrás, quando a doença foi diagnosticada, a doutora comentou que poderia evoluir para uma leucemia.
É ‘evoluir’ que se fala? Evoluir para uma coisa pior?”
.
O cara parece atordoado, mas continua buscando palavras. É Rodrigo quem tenta tornar o clima mais ameno, comentando sobre os cabelos ruivos de uma menina que acabara de passar. Ninguém se assusta nem tampouco o acusa de pinçar um assunto inapropriado para aquele momento. Mas a brincadeira não avança muito.
.
Um entrevistador que passou por redações de grandes jornais, com chefes idiotas e cruéis, dispara: “Come-se mais gente, estando numa banda?” É quando Flock parece ficar mais sério: “O quê? Sei lá. Minha avó morreu. Não consigo falar sobre esse assunto. Sei lá. Na verdade, nem sei o que estou sentindo. Entendeu? Não fiquei com vontade de chorar nem nada. É estranho?”
.
Recompondo-se, o escriba faz coro com os outros dois caras da banda: “Não, não tem nada de estranho nisso, em não sentir vontade de chorar.” Mais uma vez, é o jovem guitarrista quem contribui decisivamente para tornar o clima algo ameno: “Não é estranho. Um grande amigo meu morreu, no início desse ano. Era baterista de uma banda de ska. Satélites da Babilônia. Vocês conhecem? Um dos melhores bateristas que conheci. Filho de um amigo do meu pai. Cresceu comigo. 26 anos. Ele estava na Bahia, com a família. Passou mal. Voltou pro Rio, fez vários exames. Fui lá. Falei com ele. Três dias depois, o cara morreu. Chorei mais quando meu cachorro morreu do que quando minha avó morreu. Sério. De verdade, mesmo. Sério. Em três anos, vi minha avó uma vez. Morava com meu cachorro. O vínculo era muito maior.”
.
Flock resolve voltar a falar e depois de dizer que aquela situação toda lhe parece “bem Jason” declara uma certa dor: “Tô me sentindo culpado porque falei com minha mãe que ia viajar, mesmo com minha avó estando mal assim. Bem Jason, isso. No meio de uma entrevista, morre a avó do cara. Sempre lidei com a negatividade, o tempo todo. Tinha que estar preparado. Apesar de não acreditar em coisas do Além, mas… Só escrevo merda, no Jason.”
.
Rodrigo lembra que “Rivotril”, uma das músicas do album novo, fala de um cara voando da janela. Basta essa lembrança para que Flock sinta-se reabastecido de ar para um novo mergulho na culpa: “Tem coisa muito pior”, diz. “Sei lá. Um dia, um cara que era empresário do Poindexter avisou: ‘Você fica escrevendo a palavra azar, nas letras. Isso dá azar.’ E porque ele falou isso, escrevi uma letra que tinha sete vezes essa palavra. Tipo uma piada.”
.
O rapaz diz não estar arrependido de nenhuma de suas letras que falaram de morte, azar e arredores. “Sempre vendi esse peixe, de que a morte é uma coisa natural. Tenho que lidar com isso da melhor maneira possível. Mas eu definitivamente não estava pensando em ir agora para o Hemorio.” Alguns instantes de silêncio e o entrevistador cruel comenta que aquela frase pareceu uma piada. Ao que a “vítima” da noite responde/confirma: “Era mesmo uma piada.”
.
Tomados por um vendaval de responsabilidade, culpa ou sabe-se lá o quê, todos insistem para que Flock coma alguma coisa. Antes de lançar-se num taxi, em direção à rua Frei Caneca, no centro da cidade, ele deve alimentar-se. Pelo menos um pouco. Uma porção de salame hamburguês, encomendada antes da chegada da “trágica” notícia, é a iguaria disponível. Proteína e muita gordura, mas com cerveja – todos também concordam com isso – cai muito bem.
.
Aquelas tirinhas de carne servem para que o jovem guitarrista lembre-se do curso de Veterinária que ele abandonou: “É, larguei quando faltava um ano pra acabar . E quase virei vegetariano. Trabalhava com produção animal. Criação de porcos. E desde sempre a gente aprende na faculdade a ignorar o sofrimento dos bichos dessa cadeia de produção. A gente leva um cachorro, que é um mamífero, pra castrar, numa veterinária. Pagamos 300 reais de anestésico.  Eu castrava numa manhã 60 porquinhos. A sangue frio. A seco. Mas é um mamífero e grita… Pensei: ‘Tá totalmente errado, isso tudo! Vou embora!’ Tem um negócio na Zootecnia e na Veterinária que é: quanto mais bruto você for, melhor você é. Foda-se a higiene, foda-se tudo. Tem dois segmentos. A galera que vai cuidar de bicho e a galera que vai fazer comida. A maior área é fazer comida. Você não cria animal. Cria comida. Burger King, McDonald’s. Milhões de sanduíches vendidos por dia. Não tem como fazer uma criação pra isso que garanta o bem-estar animal. Não tem como. Saí fora! E tentei diminuir isso um pouco, na minha vida. Mas não consigo mais. Minha família é gaúcha.”
.
Como estaria Flock, a esta altura, tendo deixado por alguns instantes de ser o centro das atenções? Quando ele volta para a conversa, diz que não sabe explicar o que está sentindo. Confessa estar tomado por vários pensamentos: “Será que fui menos humano, por não ter largado tudo pra ir logo lá? Mas ao mesmo tempo estaria fazendo isso só pra corresponder ao que todo mundo espera. Na verdade, tem um lance muito fundamental, que tá me fazendo ficar aqui. Quando minha irmã me ligou, ela estava saindo de Madureira com a minha mãe. Ou seja: estou muito mais perto do que ela. Pra que que eu vou chegar lá, agora? Quero dar um tempo pra chegar e ficar com a minha mãe… Nunca passei por uma morte que não fosse esperada. Espero que continue assim.”
.
Marcelo nos conta que ele por sua vez jamais “passou por qualquer morte”: “Meus avôs morreram antes de eu nascer. Minhas avós e meus pais estão vivos.” Ao que o guitarrista pergunta: “Você nunca perdeu nenhum cachorro? Você precisa ter um cachorro, antes, pra aprender a lidar com isso.” Sugestão aceita pelo baterista.
.
Flock parece querer mudar o rumo da conversa: “Tem um monte de letras no Jason que falam sobre Deus. Muito recentemente, comecei a pensar: ‘Caralho, não sou obrigado a…’ Tive uma criação católica e fui na direção daquilo que artista da Globo adora falar: ‘Acredito numa força superior.’ Para agora chegar no ponto de não saber se acredito nisso.” Diante da sugestão de mandar para o inferno qualquer sensação de culpa, uma resposta bem flockiana, falando da dúvida também em relação à existência da casa do capeta. Passando pelo céu e pelo inferno, ninguém estranhou quando o assunto chegou à reencarnação.
.
Era hora de o jovem guitarrista tentar uma nova piada: “Reencarnação tem a ver com os calafrios que ninguém explica…” Mas o baterista foi mais rápido: “Você tem muito desses calafrios? De repente, é alguém passando a mão na tua bunda…”
.
Flock disse que calafrio, não, não era coisa que rolasse com ele. O que rolava, então? Sonhos. “Penso muita parada ruim. Mas tento racionalizar. Isso não é maneiro. Quero ser uma pessoa boa. Quero fazer isso. Tudo numa fração de segundos. E quem não pensa nisso? É escroto. Naturalmente escroto.”
.
Bem Jason?

Viewing all articles
Browse latest Browse all 3

Latest Images





Latest Images